Geralmente pensa-se que quem monta uma empresa e se estabelece por conta própria é um empreendedor. Todavia, é raro que assim seja. Hoje falo-vos do mito do empreendedor.
Quem monta uma empresa é frequentemente um técnico. Muitas vezes, um técnico acima da média, mas insatisfeito! É por exemplo o caso de um fantástico chef de cozinha, que se fartou de trabalhar para os outros e decide montar o seu próprio restaurante. No dia em que o restaurante abre, este chef irá para a cozinha fazer o trabalho técnico subjacente ao negócio.
Muitas PME, por exemplo, funcionam em auto-gestão. Porque ninguém está a fazer as funções de gestão, enquanto o empresário está na função operacional. Estas PME não estão a ser geridas, mas sim a ser operadas. Ou seja, encontram clientes, fecham vendas, entregam o serviço, pedem referências e fazem o ciclo todo de novo.
Se o derradeiro desafio é o crescimento do valor da empresa, esta deve ser preparada para não ser preciso lá estar o empreendedor que a criou. Pois enquanto ela depender de uma pessoa valerá menos. Fazer crescer a empresa consiste em prepará-la para que um dia nós possamos ser os investidores. Em rigor está a prepará-la para poder crescer e assegurar a previsibilidade dos fluxos de caixa futuros.
Se o empresário técnico tem de estar no nível técnico, o negócio cresce apenas até ao limite de horas que o empresário tenha para dar.
Grande parte das PME, por exemplo, não cresce mais porque precisa do empresário para assegurar uma série de funções na parte de baixo do organograma da empresa. Ora, isto leva a que muitos empresários vão passando a ter um horário sucessivamente mais alargado até ao momento em que não aguentam. E um dos dois falha: ou o empresário, ou a empresa. Ou ambos, o que é muito comum.
Há empresários que inclusive decidem que a empresa não pode sair do seu controlo. No entanto, eu não sei se estes empresários têm alternativa. Isto porque tudo tem um ciclo de vida, como na natureza. E, segundo as leis da natureza, tudo o que não está a crescer está a morrer.
Uma empresa não pode precisar do empresário operacionalmente.
Do ponto de vista da execução, o empresário deve estar no topo do organograma, desenhar um plano, liderar a equipa e controlar os resultados. O empresário é um criador e um coordenador ou líder.
Um empresário que passa a maior parte do tempo a executar ou operar, no nível mais baixo do organograma, deverá e acabará por ser remunerado como técnico e não pelo valor que acrescentaria como empreendedor.
O “gestor” que exerce a função de técnico necessita de preparar a empresa para que possa subir no organograma. Para tal, é necessário que ele construa um sistema para executar as ações que lhe estavam atribuídas de uma forma o mais eficaz possível. Essas tarefas devem então ser delegadas, competindo ao gestor apenas a função de controlo. É nesse momento que o gestor maximiza o valor da empresa. Porque ela não depende de pessoas e sim de sistemas. Só nesta fase a empresa pode crescer a sério.
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«Todo o mundo precisa aprender a ser um líder. Todos devem ser capazes de destilar “soluções criativas” em circunstâncias ambíguas» (Scheumacher, General das FOE USA)