Transformar lucro em fluxo de caixa é uma dificuldade transversal a várias empresas não só em Portugal mas no mundo. Por vezes, os próprios empresários têm alguma dificuldade em distinguir estes dois indicadores.
Mas é crítico percebermos que o lucro é uma figura teórica, que é a diferença entre aquilo que faturamos e os custos que nos são faturados a nós. Portanto, nem sempre (e isso acontece muitas vezes), representa aquilo que é a realidade da tesouraria da nossa empresa. E por isso muitas empresas deparam-se com o desafio a que eu costumo chamar buraco da tesouraria.
E o que é isso?
Imaginemos que uma empresa compra mercadoria ou matéria-prima para transformar e que em média paga essa mercadoria ou matéria-prima a 30 dias. Depois, essa mercadoria fica armazenada, ou seja, fica em inventário em média 60 dias. E que após ser vendida a empresa leva em média mais 60 dias a cobrar essa mercadoria.
Esta empresa até compra a um bom preço e vende a um preço ainda melhor. O cenário é ainda mais positivo, a empresa tem custos fixos baixíssimos, o que lhe gera uma margem líquida muito boa no final de cada período contabilístico.
Portanto, tudo isto significa que o seu lucro é elevado.
E onde é que vai estar esse lucro?
Não vai estar na sua conta bancária… Porquê?
Vejamos com atenção:
- Prazo médio de pagamento 30 dias
- Prazo médio de stock 60 dias
- Prazo médio de recebimento 60 dias
Então a empresa paga a 30 dias, mas só tem o dinheiro na sua conta a 120.
Há por isso um buraco de tesouraria de 90 dias.
E este buraco é uma espécie de aspirador de cash flow. O lucro está lá e temos de pagar impostos sobre ele. Mas o cash flow, ou seja, o dinheiro que podemos gastar, não está lá.
Então de onde vem o dinheiro para tapar este buraco?
As alternativas não são muitas.
Por vezes o dinheiro vem do cash flow operacional que essa empresa geraria e que deixa de gerar porque ele passa a ficar estacionado, ou no seu armazém ou nos seus recebimentos. Aprenda a aumentar o fluxo de caixa da sua empresa neste artigo.
Outras vezes não havendo cash flow operacional temos de pedir financiamento à banca para tapar este buraco. Este cenário é o cenário mais dramático, porque havendo dívida aumenta o risco da nossa empresa, mas acima de tudo a dívida tem um custo! Então o buraco da tesouraria não só vai ter um impacto no nosso fluxo de caixa operacional, como passa a ter um impacto negativo também nos nossos lucros, porque gera um custo financeiro na minha empresa.
A terceira alternativa será o empresário colocar do seu próprio bolso o dinheiro que é preciso para tapar o buraco de tesouraria da empresa. Reparam: teoricamente um empresário monta uma empresa para que ela lhe possa dar dinheiro, não para que ele tenha de pôr lá o seu. Mas a verdade é que este cenário pode realmente acontecer.
Por isso é crítico para todos nós, empresários, termos atenção aos nossos indicadores. Até porque há dois efeitos absolutamente dramáticos deste fenómeno e que não podemos tratar com ligeireza:
1- A sobrevivência da empresa
Só há uma razão para uma empresa fechar: acabar o dinheiro. A organização pode acumular lucros crescentes, mas se não tiver liquidez, não terá dinheiro para pagar as contas. E é isso que faz com que a empresa feche.
2 – A rentabilidade da empresa
Mesmo que nós mantenhamos a sobrevivência da empresa, a empresa pode não gerar fluxo de caixa suficiente para que nós possamos viver melhor fruto do nosso esforço e do risco que corremos como empresários.
Então devemos ter atenção aos indicadores para assegurar que as nossas empresas estão a crescer de uma forma saudável e equilibrada.